UMA VISÃO ÚTIL? – A religião explicada por suas funções

Porque existe a religião? Na literatura sobre o assunto é comum se referir às várias funções que a religião serve. O exemplo mais conhecido é a frase de Marx que a religião é ópio do povo. Nas mãos dos opressores a religião serve para esquecer a miséria e sonhar de uma vida melhor no céu. Lógico que muitas vezes a frase de Marx é alterada: ópio para o povo. Mostra supostas maus intenções.

Mas tem mais exemplos. Teorias evolucionárias sugerem que a religião existe porque ela tem apoiado a ser humano nos seus esforços de sobreviver na seleção natural. Há também autores que mencionam função da religião de dar respostas às perguntas mais básicas: o sentido da vida e das aflições, a morte apresentando o problema mais inevitável. Fornecer ume definição do que é bom e mal é outra função mencionada regularmente. Isso leva a outra finalidade da religião: garantir uma certa ordem e coesão na sociedade. Ao mesmo tempo a religião está na base da diferenciação social, colocando pessoas em categorias distintas. Implícitos nisso são conflitos entre grupos religiosos. Além disso a religião segura a identidade, tanto individual como coletiva.

Apesar das diversas opções, toda teoria baseada numa função reduz o religioso ao não-religioso. Em outras palavras: as crenças e práticas de uma religião não são incluídas nas explicações. Significa que muitas das opiniões e atividades dos fiéis não são levadas em consideração. Parece que não são necessárias para entender a religião, salvo quando são diretamente ligadas a uma função.

Assim uma explicação que se limite à função não consegue interpretar a grande variedade entre as religiões. As funções atribuídas universalmente à religião estão presentes em qualquer religião. Por que cada religião então precisa de todo um repertório de idéias, mitos e rituais, enquanto um mínimo serviria para satisfazer o que as funções demandam? Em termos de eficiência, esta abundância simbólica é supérflua.

Aliás, muitas vezes as religiões não são exemplos de uma prática funcional. Atrasam muitas vezes na adaptação às transformações na sociedade e na cultura. Tem igrejas que estimulam os seus seguidores a pensarem de maneira independente. Pode levar a resultados que não servem a instituição. Fiéis são capazes de desenvolver idéias e práticas que são contra-produtivas. Líderes também podem agir de maneira contra-funcional, pois podem tomar decisões que favorecem seu poder e seus interesses, e não as funções úteis para o comum. Liderança e membros todos têm a ver com o paradoxo de servir o bem-estar do seu grupo, mas também da sociedade, hoje global. Todo altruísmo vai contra exigências funcionais.

Há outro argumento ainda: os fundadores das religiões não têm pensado em termos de funções quando tomaram as suas iniciativas. É interessante ver que a maioria das funções é apenas aplicável quando uma religião é estabelecida e institucionalizada. No início existe primordialmente uma combinação de 1. perguntas básicas da vida,  2. um início de um repertório simbólico, com idéias, mitos e ritos, e 3. uma posição marginalizada, fora do centro de poder religioso. Aí surge já a abundância de sentidos e significados. Em parte acontece em reação à religião vigente, como nos casos de Jesus e Maomé. Na margem existe mais liberdade de descobrir novos sentidos, mesmo nas doutrinas e práticas tradicionais.

Resumindo: Seria bom reabilitar o repertório simbólico na explicação da religião. Uma avaliação crítica da abordagem funcional abre a perspectiva da religião como um jogo de dar e descobrir sentido e sentidos. Como cada jogo, este também deve ser praticado de maneira séria. Por isso convence. Este jogo, por si só, já dá satisfação, suficiente para querer entrar naquele jogo. Todas as funções imagináveis representam um bônus.

Caros pastores entre os meus leitores: Já sabiam que servem tantas funções? Sem falar dos universos simbólicos que administram…

B03-151013

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