Ineke e eu temos um dia PP: Prazer dos Pensionados. Visitamos o Kröller-Müller de manhã, conhecido por sua coleção de Van Gogh. De tarde vamos ao Museum Lalique. Em ambos a imaginação abunda. A realidade é apresentada de mil maneiras. Além disso se cria realidade pela arte. Olhamos pelos olhos dos artistas, descobrindo novas esferas.
Entrementes me pergunto o que seria a diferença entre a imaginação artística e religiosa. Em 1974, meu professor Jan Van Baal (1909-1992) publicou um pequeno livro sobre arte, religião e jogo, infelizmente só disponível em holandês. Traduzido, o título do livro é ‘A mensagem das três ilusões’. A palavra ‘ilusão’ foi usada de propósito e não no sentido pejorativo ou crítico. A raíz da palavra ‘ilusão’ é a mesma que o ‘ludens’ em ‘homo ludens’, o ser humano que joga e brinca. Tanto na arte quanto na religião se brinca. Ambas criam uma realidade própria que os participantes experimentam como decisiva, saudável ou bela. Esta realidade é autêntica, se baseando numa experiência impressionante. Arte e religião se juntam na arte religiosa. Mas até a arte secular cria sua realidade, como acontece na religião.
Qual então a diferença entre arte e religião? A resposta comum é: a divindade personalizada faz a diferença. A arte pode ser chamada divina, mas não cria Deus ou deuses.
Para ateus, o Deus pessoal não pode fazer parte da realidade. Na opinião deles, só o que consegue ser mostrado empiricamente é real. Mas o que seria a realidade empírica de uma obra de Van Gogh ou de Lalique, admirada por fiéis e ateus sem distinção? O artista vê algo, representa isso, os visitantes do museu vêem a obra de arte, cada um de sua maneira. Vêem o que querem ver. Ateus também assim criam sua realidade.
Repare como Van Gogh é popular entre os brasileiros. Quando amigos brasileiros nos visitam, a ida para um dos dois museus que guardam a obra de Van Gogh é sempre um sucesso. O que na cultura brasileira prepara os brasileiros para esta preferência? Como os brasileiros criam o seu Van Gogh? Tem a ver com a sua postura religiosa?
Voltando à comparação: A arte parece cópia da religião. Museus parecem templos. Os conservadores são os seus sacerdotes. Eles são especialistas na explicação. Uma visita a uma exposição e a inauguração de uma exposição fazem parte do ritual do museu. Os visitantes admiram os artistas e suas obras. Um artista pode ser objeto de um culto ao redor da sua pessoa. Arte e religião são duas maneiras de jogar com o sentido da realidade.
Falando de religião e jogo, sempre incluo poder. Poder é a capacidade de influenciar o comportamento de outras pessoas. A religião institucionalizada mostra a importância deste aspecto, como a organização da arte o faz. Quem dispõe de dinheiro, prédios, contatos e conhecimento especializado tem mais poder do que não tem acesso a estes recursos. Criatividade é outra fonte importante, tendo uma certa raridade. Escassez é um fator. Até visitantes podem ser uma fonte escassa pelos quais os concorrentes brigam.
Mas a maior qualidade que arte e religião têm em comum, é a imaginação. Tanto na arte como na religião, os que estão no poder tentam controlar este lado. Embora indispensável para ter uma certa ordem garantida, poder sempre vem com a sedução de se tornar alvo, de se manter, ao serviço de si mesmo, ao invés de ser apenas meio. Infelizmente a religião e a arte se assemelham também neste respeito. O jogo é o vítima.
Descobrindo a semelhança, penso que ateus admiradores de arte podem ser um pouco menos críticos da religião. Ao mesmo tempo existe o desafio para os fiéis de integrar a arte na sua maneira de crer. E talvez ver a convicção ateia como outro jogo de dar sentido à vida.
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